quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Acordo ainda distante para crise em Honduras

Retirado de "O Globo"
Por Ricardo Galhardo

TEGUCIGALPA. Em clima tenso marcado por recriminações de ambos os lados, representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do governo interino de Honduras descartaram completamente a possibilidade de um acordo imediato que ponha fim à crise que já dura mais de três meses, intensificada nas últimas semanas com o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao país. A expectativa é que as negociações avancem na próxima semana. Ontem, acordou-se a criação de duas subcomissões: uma para debater a restituição de Zelaya e outra para discutir os outros temas.
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e o chanceler do governo interino, Carlos Lopes Contreras, descartaram uma solução imediata.
- Isso é para uma semana ou mais - disse Insulza, que ontem à noite pediu ao governo interino que Zelaya, instalado com dezenas de seguidores na embaixada brasileira, possa ir para "um local mais confortável".

Micheletti acusa OEA de não querer saber a verdade
No discurso de abertura da rodada de negociação, Insulza deixou claro que o marco para o início do diálogo é o acordo de San José, articulado em julho pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias. Insulza destacou cinco dos 11 pontos originais do acordo: restituição de Zelaya, retirada do projeto de reforma constitucional, anistia política, formação de um governo de conciliação e presença de organismos internacionais para garantir o cumprimento do pacto.
Insulza deixou claro que a solução será doméstica, mas foi duro ao cobrar resultados.
- Não estamos aqui para fazer recriminações mútuas nem para um debate histórico. Viemos para encontrar soluções concretas para uma situação que já não pode se prolongar - afirmou.
O presidente interino, Roberto Micheletti, usou um tom duro ao discursar para a OEA.
- Vocês não sabem toda a verdade e não quiseram saber. Nunca escutaram nossas razões. Aqui não temos medo dos EUA, nem do Brasil, nem do México, temos medo de Manuel Zelaya, ficamos aterrorizados com Manuel Zelaya - disse Micheletti, negando que a suspensão das liberdades individuais tenha afetado a população. - O decreto que suspendeu algumas garantias constitucionais não é estado de sítio. Foram os dias mais tranquilos para a população.
Segundo fontes na OEA, a negociação enfocará a restituição e a anistia, pois os demais pontos estão próximos do consenso. Para John Biehl, assessor de Insulza, o prazo é de 15 dias.
Em seu discurso, Contreras voltou a cobrar que o Brasil defina o status diplomático de Zelaya e pedir que a embaixada não seja usada como plataforma pelo presidente deposto. Além disso, rebateu a acusação do enviado brasileiro, Ruy Casaes, de que Zelaya não teve direito a um julgamento nem a defesa plena.
- A Carta Democrática (da OEA) também prevê sanções a governos que atentem contra a democracia, e a OEA não fez nada contra Zelaya.
O chanceler, que afirmara estar revogado o decreto suspendendo direitos civis, vigente há 11 dias, foi desmentido pelo porta-voz da polícia.
- O decreto continua em vigência e com base nele fizemos esta ação policial - disse Daniel Molina, justificando a dura repressão a um protesto de 200 aliados de Zelaya na porta da Embaixada dos EUA.
A repressão ao protesto foi o ponto alto da escalada de tensão em Tegucigalpa com a chegada da delegação da OEA. Centenas de policiais e soldados circulavam pela cidade e cercavam o hotel onde ocorreu a reunião. Os chanceleres entraram no hotel por um corredor formado por policiais com fuzis AR-15.

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