quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Memórias dos desaparecidos

Retirado de "Correio Braziliense"
Por Sérgio Maggio

Na semana passada, o governo federal iniciou campanha nacional para remexer no que parece estar amarrado a sete nós. Batizado de Memórias Reveladas, o projeto tem site (www.memoriasreveladas.gov.br) que tenta reavivar o assunto esquecido por milhões de brasileiros, mas martelado diariamente na cabeça de algumas centenas de compatriotas. Parentes e amigos de mais de 140 estudantes e militantes que foram catalogados na triste alcunha de “desaparecidos políticos”.
No site, o cidadão pode ajudar a escrever a história, caso possua alguma informação sobre o paradeiro ou documento da ditadura. O sigilo é garantido. Aguardada há tempos por todos aqueles que acreditam nos direitos humanos, a ação, em prol da memória das vítimas do regime militar, é discreta e tímida diante do que aconteceu em países vizinhos, como Argentina e Chile, onde a sociedade civil e o governo democrático necessitaram ficar, sem pudores, diante dos horrores da ditadura.
Não será possível o Brasil amadurecer como democracia plena se não der cabo desse traumático episódio, por mais que isso doa e incomode. A campanha Memórias Reveladas é bem-vinda, sim. Mas é necessário um passo concreto para garantir a abertura e o compartilhamento de todos os documentos e informações guardados ainda nos porões. Principalmente, porque move, nas famílias, a esperança de enterrar seus queridos filhos e filhas.
Na terça-feira, 6 de outubro, os restos mortais de Bergson Gurjão Farias, guerrilheiro do Araguaia, foram enfim sepultados no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza (CE). Sem grande destaque na mídia nacional, o enterro ocorreu 37 anos depois da morte do líder estudantil cearense. A cerimônia encerra um pesadelo na vida de amigos e parentes, que atravessaram décadas convivendo com a ausência do corpo.
Aqui, em Brasília, dona Maria Rosa Leite Monteiro sonha em saber o destino do corpo de Honestino Guimarães, estudante de geologia da UnB e líder da UNE, capturado no Rio de Janeiro em 10 outubro de 1973. A certidão de óbito que tem em mãos nem diz a causa mortis. Em casa, essa guerreira, que há anos luta por encontrar a verdade, espera incansável que alguém acesse o site do Memórias Reveladas e ajude a realizar o que lhe é de direito: enterrar o próprio filho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário.