Internet, telefones celulares, cartões de banco e novas tecnologias em
geral não estão transformando somente o cotidiano dos empregos e do
mercado formal. Estão mudando também o mundo do crime, que ficou menos
violento para as vítimas e mais lucrativo para os ladrões. É o que
mostra a série de pesquisas de vitimização feita ao longo de dez anos em
São Paulo pelo Insper. Os dados da última rodada, que serão divulgados
nesta semana, foram obtidos com exclusividade pelo jornal "O Estado de
São Paulo".
18.out.2013
- Policiais conversam perto de carro BMW onde um homem foi encontrado
morto na região da Serra da Cantareira, zona norte de São Paulo. O
corpo, identificado como o de um empresário sul-coreano, tem marcas de
cortes no pescoço Renato Ribeiro Silva/Futura Press/AE
Na década, o tipo de crime que mais cresceu na capital foi a fraude
eletrônica em cartão de crédito. Em 2003, apenas 1,4% das pessoas
entrevistadas para a pesquisa tinha sido vítima desse crime. Após 10
anos, a fraude já atingia 5,9% dos entrevistados --aumento de 327,5%.
Você sente que a violência em São Paulo aumentou nos últimos meses?
"O estudo mostra que houve uma alteração clara no padrão de vitimização
ao longo do tempo. Hoje em dia os crimes relacionados a cartões de
crédito, fraudes bancárias e sites de compras são bem mais comuns. Esses
crimes são menos violentos e os criminosos correm menos riscos, mas
envolvem uma perda maior de dinheiro", diz o professor Naercio Menezes
Filho, que coordenou a pesquisa. "A polícia e o Judiciário precisam se
atualizar para lidar com esse crime."
Como resultado, atualmente há mais pessoas que sofreram esse tipo de
estelionato do que vítimas de roubo --crimes contra o patrimônio com
violência. Em 2003, segundo o estudo, 5,4% dos entrevistados relataram
que foram roubados na capital pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores
à pesquisa, total que caiu para 4,6% em 2013.
"Os dados levantam a hipótese de que talvez a notificação de roubo
esteja crescendo mais do que o crime propriamente", diz o sociólogo
Renato Sérgio de Lima, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública de São
Paulo, os casos de roubo são crescentes. "Os boletins eletrônicos podem
ter ajudado (a aumentar a notificação). A aparente contradição entre
dados oficiais e respostas de entrevistados revela como a pesquisa é
importante", afirma Lima.
Estudos de vitimização são considerados a melhor ferramenta para
retratar a fotografia da cena criminal na sociedade, uma vez que nem
todas as vítimas registram oficialmente na polícia os crimes que
sofreram. A subnotificação cria o que especialistas chamam de cifras
negras. As três pesquisas de vitimização do Insper são de 2003, 2008 e
2013. Ao todo, foram 10.967 entrevistados na cidade.
Os dados mostram também que um em cada três paulistanos - 32,5% dos
entrevistados - foi vítima de algum tipo de crime no ano anterior à
pesquisa, excluindo agressão verbal e acidentes de trânsito. Os
estelionatários --fraudes em cartão de crédito, dinheiro falso ou cheque
sem fundo-- vitimaram 18,67% dos entrevistados.
Entre 2004 e 2010, a SSP fazia pesquisa de vitimização periodicamente,
mas abandonou o uso da ferramenta. O sociólogo Tulio Kahn, que trabalhou
na Coordenadoria de Análise e Planejamento da SSP, diz que a pesquisa
do Insper detecta informações parecidas a alguns dados que vinham sendo
coletados nas pesquisas do governo, como a diminuição na sensação de
insegurança e a redução na quantidade de armas em posse da população.
Conforme estatísticas do Insper, em 2003, tinham armas de fogo em casa
2,6% dos entrevistados, total que caiu para 1,5% neste ano. O medo de
sofrer violência diminuiu entre 2003 e 2008, mas voltou a crescer em
2013. Em 2012, houve a alta dos homicídios resultante do conflito entre
policiais e integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Saiba os artifícios mais comuns utilizados por cibercriminosos para enganar usuários
Todo
dia são criados novos tipos de golpes para enganar usuários na internet
seja por e-mail, na navegação em um computador ou em dispositivos
móveis. Porém, há alguns artifícios clássicos como: promessas de
prêmios mirabolantes, links para conteúdos chamativos, pedidos de dados
bancários, entre outros. Veja a seguir quais são as técnicas mais usadas
listadas por Fábio Assolini, analista de malware da Kaspersky Arte/UOL
"A redução do medo era percebida principalmente nas periferias, como
resultado da queda da taxa de homicídio", diz Kahn. "A vitimização
complementava registros oficiais e era instrumento importante para
orientar o trabalho da polícia."
Subnotificação
Entre as informações importantes reveladas pela pesquisa está a
subnotificação. Apenas 36,7% das pessoas que foram vítimas de roubo, por
exemplo, informaram sobre o crime à polícia. O total diminui ainda mais
quando perguntados quantos foram à delegacia prestar queixa: só 28,8%.
"A Polícia Militar normalmente faz o primeiro atendimento, via 190.
Alguns acabam desistindo de ir à delegacia. Isso mostra que seria mais
produtivo um boletim de ocorrência unificado", diz o cientista político
Leandro Piquet Carneiro, da USP (Universidade de São Paulo).
Fonte: UOL Notícias