quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Caos e destruição no Haiti

Um forte terremoto, de magnitude 7 graus na escala Richter, atingiu ontem a capital do Haiti, Porto Príncipe, por volta das 17h (hora local, 20h de Brasília). Minutos depois, dois outros abalos, de 5.9 e 5.5 graus, réplicas do primeiro, foram sentidos no Haiti, o país mais pobre das Américas, e na vizinha República Dominicana, que compartilha a mesma ilha. Os tremores causaram o desabamento de edifícios na capital haitiana, e deixaram - segundo relatos iniciais - dezenas de mortos e feridos sob os escombros. Testemunhas relataram ainda que o Palácio Nacional do país e outros prédios governamentais teriam desabado, mas não houve confirmação oficial. Os serviços de comunicação e telefonia móvel e fixa do Haiti foram afetados pela catástrofe.
- O Palácio Nacional, os ministérios das Finanças, do Trabalho, de Comunicação e Cultura, o Palácio da Justiça e a Escola Normal Superior caíram - relatou um jornalista da TV Haitipal por telefone, de Porto Príncipe, à agência de notícias AFP.
Testemunhas, rádios e TVs locais relataram ainda o desabamento de um hospital em Pétionville, um subúrbio da capital; de construções de um aeroporto; de um hotel, do Parlamento; da catedral, além do bloqueio de estradas por destroços. A capital ficou coberta por uma espessa camada de poeira, que escureceu o céu após os desabamentos. Em entrevista à CNN, Frank Williams, da ONG World Vision Haiti, relatou que moradores atônitos gritavam pelas ruas procurando por parentes e escavando escombros em busca de sobreviventes.
O epicentro do primeiro terremoto ocorreu 15 quilômetros a sudoeste da capital do Haiti, a uma profundidade de 10 quilômetros, segundo o Serviço de Geologia dos EUA. Esse é o maior abalo já registrado na área - em 1984 houve um tremor de 6.7 graus. O impacto levou à emissão de um alerta de tsunami a partes do Caribe, que logo foi cancelado.

'Uma catástrofe de grandes proporções'
Segundo o embaixador do Haiti nos Estados Unidos, Raymond Alcide Joseph, um assessor do presidente do país, René Préval, relatou por telefone, antes de as linhas serem cortadas, que "edifícios estavam desmoronando nas ruas à direita e à esquerda" do palácio, sem se referir a danos ao edifício. À CNN, Joseph disse que as únicas coisas que podia fazer ontem eram "rezar e esperar pelo melhor", e que se tratava de uma "catástrofe de grandes proporções".
- Tudo começou a tremer, as pessoas gritavam e as casas começaram a desabar. É um caos total - disse o jornalista Joseph Guyler Delva, da agência de notícias Reuters. - Vi gente sob os escombros, e vi gente morta.
Na República Dominicana, dezenas de pessoas saíram nervosas às ruas após os tremores. O diretor da Defesa Civil local, Luis Luna Paulino, afirmou que "todos os lugares mais vulneráveis (a desabamentos) foram monitorados", e que nenhum forte dano fora constatado até o início da noite.
- As pessoas deixaram em pânico os edifícios mais altos - disse Francisco Rosario, bombeiro de Santo Domingo.

Lula preocupado com brasileiros
Segundo o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, todos os 1.300 militares brasileiros que integram a missão de paz da ONU no país estão bem. Além dos militares, Kipman disse à CBN que há entre 50 e 60 civis brasileiros no Haiti, e que estes também estariam em lugar seguro. Kipman mora há dois anos no país, mas está no momento no Brasil e apenas recebeu relatos de sua equipe por telefone. Ele confirma que há danos severos em prédios da capital, mas não pode fornecer detalhes. De acordo com o embaixador, a área militar onde os brasileiros estão fica numa planície, sem muitas construções ao redor. Segundo o Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se disse preocupado com a situação dos brasileiros no Haiti, mas não passou orientações ao chanceler Celso Amorim.
O presidente americano, Barack Obama, convocou uma reunião de emergência entre o Departamento de Estado, a Agência Americana para Desenvolvimento Internacional e o Comando Sul dos EUA a fim de discutir ações de ajuda humanitária. Obama disse que seus "pensamentos e orações estavam com o povo do Haiti", e, logo após os abalos, quis se certificar se o pessoal da embaixada americana em Porto Príncipe estava a salvo. Em Honolulu, no Havaí, a secretária de Estado Hillary Clinton afirmou que os Estados Unidos estavam prontos para oferecer assistência plena ao Haiti, de ordem "civil e militar".
- Há reuniões de emergência ocorrendo no momento - disse o porta-voz do Departamento de Estado, Gordon Duguid, no fim da noite de ontem. - Precisamos reunir toda informação que seja possível. E vamos, claro, ajudar conforme pudermos.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destinará US$200 mil imediatamente ao Haiti, em caráter emergencial. O impacto do primeiro terremoto chegou a ser sentido de forma leve na costa leste de Cuba, onde fica a base americana de Guantánamo.
O Haiti é o país mais pobre das Américas e uma série de catástrofes e crises políticas deixaram o país à beira do colapso nos últimos anos. Eis algumas das causas:

FURACÕES
Em outubro de 2004, a passagem do furacão Jeanne destruiu a cidade de Gonaïves, deixando dois mil mortos e dez mil desabrigados. Em 2008, quatro furacões (Fay, Gustav, Hanna, Ike) que passaram pelo Caribe deixaram centenas de mortos no Haiti e 800 mil desabrigados. Na época, 70% das colheitas foram devastadas, 23 mil casas foram destruídas e outras 85 mil foram danificadas. Os prejuízos chegaram a US$1 bilhão, 5% do PIB nacional. Foi a pior temporada de furacões já registrada pelo Haiti em todos os tempos.

GOLPE
Depois de décadas de ditadura, o ex-padre católico Jean-Bertrand Aristide se tornou o primeiro presidente do país eleito por eleições democráticas, em 1990. Aristide foi derrubado por um golpe militar em 1991 e reinstalado no posto com apoio dos Estados Unidos. Ele foi forçado a deixar o país e ir para o exílio em 2004, por uma rebelião da Frente de Resistência Revolucionária Artibonite.

VIOLÊNCIA
O Brasil lidera uma força de paz da ONU, enviada em 2004, após a queda de Jean-Bertrand Aristide para coibir a violência crônica no país. Mais de 13 mil soldados brasileiros já estiveram no país integrando a Missão da ONU para a Estabilização do Haiti (Minustah). Hoje, há 1.300.

POBREZA
O país figura em 146º lugar entre os 177 medidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Mais da metade da população vive com menos de US$1 por dia, e 78% com menos de US$2. Desmatadas, apenas 2% das florestas do país estão de pé. Após tantas catástrofes, a infraestrutura do país já estava perto do colapso antes do terremoto de ontem.

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