terça-feira, 10 de novembro de 2009

Tiros em helicóptero agravam conflito no Pará

JB On Line
Vasconcelo Quadros

A onda de invasões desencadeadas por grupos de sem-terra, entre eles o MST, nas fazendas do grupo Agro Santa Bárbara, braço rural do Grupo Opportunitty, do banqueiro Daniel Dantas, recrudesceu a luta pela terra no Sul do Pará e criou um clima de instabilidade na região. Na tarde de domingo, um helicóptero do grupo teria sido alvo de disparos quando sobrevoava uma área de retiro de gado da Santa Bárbara com uma equipe de reportagem da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Os jornalistas filmavam as ações dos sem-terra a pedido da presidente da entidade, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), principal responsável pela criação da CPMI do MST, ainda não instalada no Congresso.
– Escutamos quatro ou cinco estampidos de tiros de revólver e o piloto subiu para sair do alcance – conta Oscar Boller, gerente da Fazenda Espírito Santo, em Xinguara, que também pertence ao grupo e foi invadida nos últimos dias. A câmera de vídeo registrou, em áudio, o barulho dos disparos e as imagens de sem-terra armados ateando fogo em pastagens e instalações.
Ao contrário do que havia sido informado pela assessoria da Santa Bárbara durante o dia de ontem, os responsáveis pelos supostos tiros, segundo Boller, não pertencem ao MST, mas a outros movimentos que também invadem terras na região, entre eles a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf). O objetivo da CNA é divulgar as imagens de destruição nas sedes das fazendas no Sul e Sudeste do Pará, para chocar a população e criar clima para instalar a CPI do MST.
Na semana passada, o mesmo avião monomotor Sêneca que pertence ao grupo rural de Daniel Dantas e foi usado para registrar as imagens de destruição promovida pelo MST na Fazenda Maria Bonita, caiu logo depois de decolar da sede da Fazenda Santa Bárbara. Ferido, o piloto ainda está internado em Redenção, mas não há indícios de que o acidente possa ter sido provocado pelos sem-terra. A assessoria do MST diz que as suspeitas que vêm sendo alimentadas pela CNA e pelo grupo do banqueiro Daniel Dantas têm a finalidade de criminalizar o movimento para forçar a instalação da CPI.
As atividades rurais de Dantas entraram na linha de fogo entre CNA e MST. Desde que o banqueiro foi preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, em julho do ano passado, os sem-terra já invadiram e dominam quatro fazendas do grupo no Sul do Pará. Os administradores estimam que cerca de 600 cabeças de gado já foram abatidas para para alimentar os invasores.
– Os prejuízos passam de R$ 12 milhões. Mais grave que invadir é a destruição dos ativos – diz um dos diretores da Santa Bárbara, Rodrigo Otávio de Paula.
Segundo ele, o MST se apossou de quatro retiros de gado, queimou três pontes para evitar que a polícia entre e domina uma área onde são mantidas cerca de 25 mil cabeças de vacas de reprodução de raça. Nesses retiros, segundo o diretor, nascem diariamente 200 bezerros, mas os funcionários do grupo não conseguem tratar os animais. Os sem-terra têm feito churrasco até com bois de raça, usados para melhoramento genético do rebanho.
Os conflitos no Sul e Sudeste do Pará serão transferidos amanhã para o plenário do Tribunal de Justiça do Estado, em Belém, que vai julgar um pedido de intervenção federal apresentado por produtores rurais. Eles acusam a governadora Ana Júlia Carepa (PT) de fazer o jogo do MST, impedindo o cumprimento dos mandados de reintegração de posse expedidos pela justiça.
– Ela é absolutamente omissa. A polícia tem ordem da governadora para não cumprir os mandados.
Atualmente existem mais de mil propriedades invadidas, 111 liminares de reintegração de posse não cumpridas e mais de 300 processos em andamento – afirma Rodrigo Otávio de Paula.
A governadora determinou ontem a desobstrução de todas as estradas bloqueadas pelo MST na região, entre elas o trecho da BR 150, em Eldorado dos Carajás, onde 19 sem-terra foram mortos em abril de 1996. A Polícia Civil também pediu, ontem a tarde, a prisão preventiva do principal líder do MST na região, Charles Trocate, e passou a procurar, para ouvir em depoimento, os demais dirigentes que se envolveram, no último dia 5, com a destruição de várias casas da Fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás. Uma força-tarefa das polícias civil e militar se instalou em Redenção e Marabá para tentar evitar que a onda de inavasões descambe em violência generalizada.

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