terça-feira, 20 de outubro de 2009

Arsenal de guerra Governo do Rio rompe linha de acomodação ao crime, mas ainda deve vitórias duradouras sobre as gangues do tráfico

IMAGENS fortes como a do helicóptero derrubado no Rio, levando à morte três policiais, produzem a impressão de que a insegurança da população carioca estaria aumentando, e os traficantes, vencendo a disputa pelos morros. Na realidade, esse tipo de confronto também pode prenunciar o oposto: reconquista de territórios cedidos ao crime por décadas de política de acomodação irresponsável.
As 21 mortes contabilizadas até a tarde de ontem são baixas revoltantes de uma guerra suja, que não poupa inocentes forçados a morar na linha de tiro entre policiais e facínoras, e entre gangues rivais. O episódio causa ainda mais consternação por ter ocorrido apenas 15 dias depois de a cidade ser escolhida a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
A estratégia comandada pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) e seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, decerto expõe as autoridades a constante desgaste -pois as ocasiões para reveses, como o de sábado, se multiplicam. Não se pode negar-lhes, porém, o mérito de tomar a iniciativa do combate, antes quase monopólio dos bandidos. Muito da ação policial ainda é reativa, como apontou na Folha a antropóloga Alba Zaluar, mas o abandono da população feita refém foi rompido.
Embora fracassada, a ação policial do fim de semana teria sido fruto de atividade investigativa: a informação sobre a tentativa de invasão do morro dos Macacos por criminosos do São João teria sido obtida pela polícia. Falta à força pública demonstrar-se capaz de converter o necessário esforço de investigação em ações preventivas eficazes e menos letais. A polícia mata mais de mil pessoas por ano no Estado do Rio, contra cerca de 400 em São Paulo.
Está correta a iniciativa de manter a presença do Estado nos territórios conflagrados com "unidades policiais pacificadoras" (UPPs) -o policiamento comunitário, recomendado há anos por especialistas. Apenas cinco comunidades contam com UPPs; outras cinco viriam até dezembro. Nesse passo, só nas vésperas da Copa de 2014 seriam contemplados os 47 locais mapeados como prioritários.
Não basta a presença da polícia, no entanto, para pacificar essas áreas urbanas. Uma vitória duradoura, que retire dos comandos criminosos o acesso rotineiro a um verdadeiro arsenal de guerra, está por ser conquistada. O Estado, ademais, precisa levar alternativas de renda e emprego aos morros, sobretudo para os jovens entre os quais o tráfico recruta seus soldados.
O governo do Rio investe quantias significativas em equipamento e treinamento e está entre os quatro Estados que destinam à segurança mais de 12% do total de gastos anuais. Por outro lado, paga o segundo pior soldo do país para PMs novatos, cerca de R$ 1.000 mensais.
Resta, obviamente, ainda muito por fazer para pacificar a cidade. A Copa e a Olimpíada dão ensejo a que se amplie a mobilização para assegurar aos moradores do Rio o direito de viver em segurança.

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