terça-feira, 3 de novembro de 2009

ONG ligada à CUT ganha cargos e multiplica por seis dinheiro que recebe

Enquanto o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, tenta explicar como R$ 115 milhões foram parar nos cofres do MST por meio de ONGs, outra pergunta promete tirar o sono do ministro: como uma ONG rural ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores) recebeu uma bolada depois que alguns de seus membros foram lotados no ministério comandado por ele?
Deser (Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais) é o nome da entidade que assessora outras organizações ligadas à agricultura familiar. Durante os dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso, a instituição conseguiu arrancar da União dois convênios que, juntos, renderam R$ 480 mil. Mas depois que o petista e ex-membro da executiva nacional da CUT Miguel Rosseto assumiu o Desenvolvimento Agrário, integrantes do Deser passaram a ocupar postos estratégicos no ministério. Foi quando o dinheiro começou a brotar.
De 2003 (primeiro ano do governo Lula) até hoje, o Deser fechou dez convênios com o Desenvolvimento Agrário e recebeu R$ 2.989.864. Naquele ano, Rosseto chegou ao ministério e, aos poucos, lotou a pasta com integrantes do Deser.
Um dos primeiros foi Valter Bianchini, que ajudou a fundar o Deser. Ele passou a ocupar justamente o cargo de secretário da Agricultura Familiar. Quando ele saiu do ministério para assumir a Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná – do peemedebista Roberto Requião –, quem assumiu seu posto foi outro ex-diretor do Deser, Adoniram Sanches Peraci, que permanece no cargo.
Arnoldo Anacleto de Campos é outro que já atuou no Deser e agora dirige o Departamento de Financiamento e Proteção de Produção, também ligado ao Desenvolvimento Agrário.
Outro cargo-chave nas mãos de um ex-dirigente do Deser é o da presidência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que responde diretamente ao Desenvolvimento Agrário. Rolf Hackbart foi fundador e primeiro coordenador do Deser.
Mais dois membros da ONG ocupam o Condraf, o conselho do Ministério do Desenvolvimento Agrário: João Carlos Sampaio Torrens e Amadeu Antônio Bonato.
Quando Rosseto deixou o ministério em 2006 para tentar uma vaga frustrada ao Senado, quem assumiu foi Cassel, que já era secretário-executivo da pasta e tinha sido chefe de gabinete do próprio Rossetto quando ele era vice-governador do Rio Grande do Sul.
Além dos R$ 3 milhões obtidos via convênios, suspeita-se de que o Deser tenha recebido muito mais dinheiro do Desenvolvimento Agrário de forma indireta. É que a entidade costuma ser subcontratada para preparar os planos de aula de outra ONG da CUT que recebe dinheiro federal: a Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), que é alvo de investigação da Polícia Federal pelo suposto uso irregular de R$ 5,2 milhões recebidos do governo federal para capacitar agricultores nos três Estados do Sul. Desse dinheiro, R$ 3,9 milhões saíram dos cofres do Desenvolvimento Agrário.
É fácil entender porque o Deser é contratado pela Fetraf-Sul. É que as duas ONGs mantêm uma relação tão íntima que dividem até alguns dirigentes, como Sandra Nespolo Bergamin, Denise Knereck e Vera Dapont.
Essa ligação do governo com as duas ONGs ficou ainda mais evidente durante o 2º Congresso da Fetraf-Sul, que aconteceu em março de 2007. O mesmo ministério firmou o convênio 2/2007 no valor de R$ 280 mil para bancar parte do encontro, que serviu para lançar a chapa única da diretoria nas eleições da entidade. O evento reuniu mais de 3.000 pessoas, dentre os quais o ministro Guilherme Cassel.
Procurado pelo R7, o Deser não respondeu aos telefonemas nem ao e-mail enviado. O Ministério do Desenvolvimento Agrário negou favorecimento ao Deser ao dizer que se trata de uma instituição “de notório saber”.
Miguel Rosseto preferiu não se manifestar ao afirmar que o ministério já havia respondido à reportagem. Já a Fetraf-Sul disse que “todos os eventos promovidos pela federação têm como objetivos a formação de agricultores”.

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