segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A cada fuzil apreendido com criminosos no Rio, outros dois são vendidos

RIO — Durante pelo menos dois dias da semana passada, moradores das comunidades Nova Holanda e Parque Maré, no Complexo da Maré, viveram horas de terror, por causa de intensos tiroteios entre o Bope e traficantes, municiados por um arsenal que parecia não ter fim. Confrontos como esses parecem estar longe de acabar. Para cada fuzil que a polícia consegue tirar das mãos dos criminosos no Rio, outros dois são vendidos a eles, segundo estimativas de autoridades e especialistas em contrabando de armas no país.

Com 18 mil quilômetros de extensão, a faixa de fronteira do Brasil abrange dez países e 11 estados. Além disso, são 588 municípios, dos quais 120 ficam nas divisas. No entanto, estima-se que 80% de todo o contrabando de armas, drogas, produtos agrícolas proibidos e artigos piratas, entre outros, entrem diariamente no país por apenas três estados e seis cidades, onde, em tese, existe fiscalização.
O Plano Estratégico de Fronteiras, instituído pela presidente Dilma Rousseff através do decreto 7.492, de 8 de junho de 2011, parece não estar surtindo efeito, considerando-se o aumento da violência no Rio e em São Paulo, dois estados da federação que estão entre os maiores consumidores de armas de guerra na América do Sul. Em território fluminense, as estatísticas revelam um aumento médio de 70% nas apreensões de fuzis e granadas, em comparação com o ano passado. Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, diariamente a polícia retira um fuzil e duas granadas das mãos de criminosos no estado.

GOVERNO INVESTIU R$ 285 MILHÕES
Reunindo os ministérios da Justiça (por meio da Operação Sentinela) e da Defesa (Operação Ágata), o plano do governo federal, anunciado durante a campanha pela reeleição da presidente, já recebeu um total de R$ 285 milhões em investimentos. A situação nas fronteiras, no entanto, ainda está longe de ser controlada.

A ONG Natureza Verde, que tem apoio da iniciativa privada, incluindo entidades como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), fez um levantamento minucioso em toda a faixa de fronteira do país. Cruzou dados dos serviços de inteligência do Exército, da Polícia Federal e das secretarias de Segurança dos estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. Tudo com o objetivo de elaborar um projeto de parceria público-privada (PPP) para a implantação de postos de fiscalização nos principais acessos ao país.
Segundo o presidente da ONG, o advogado Fernando Humberto Fernandes, que é especialista em armas, a iniciativa privada bancaria inteiramente a estrutura física e os equipamentos dos postos. Já a Receita Federal e as polícias Federal, Militar e Civil atuariam na fiscalização.

— Uma das preocupações da ONG é com a entrada no país de produtos agrícolas chineses que são proibidos. A indústria de fumo brasileira também perde dinheiro, por conta das 65 fábricas de cigarros que existem na fronteira do Paraguai. Só a Souza Cruz estima uma perda de R$ 100 milhões por mês — diz Fernando. — Os postos de fiscalização, totalmente bancados pela iniciativa privada, teriam equipamentos de raios X, entre outros aparelhos. Também haveria câmeras de monitoramento, que permitiriam às superintendências de polícias acompanharem o trabalho de seus agentes. Com isso, se evitaria a corrupção, que é outro problema nessas fronteiras. Estamos buscando o apoio dos governadores para o projeto.

MAIS FUZIS NO MERCADO NEGRO
Segundo ele, Rio de Janeiro e São Paulo são os estados que mais sofrem com o contrabando de armas e drogas. E o problema pode aumentar, com o acordo que deverá ser fechado entre os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano.

— Com desarmamento da guerrilha, estamos prevendo mais 15 mil fuzis no mercado negro — disse o presidente da ONG.

Em nota, a Febraban informou que apoia o projeto, devido aos constantes assaltos a bancos em todo o país. A entidade informa que ocorreram, em 2014, 395 casos no Brasil. Em 2000, o total registrado foi de 1.903. A instituição chama a atenção ainda para os prejuízos decorrentes dos ataques a caixas eletrônicos. Diz que colabora com a polícia, a fim de auxiliar na prevenção dos crimes e na identificação e prisão dos ladrões, fornecendo, por exemplo, imagens de câmeras de segurança. Segundo a Febraban, é preciso, no entanto, mudar a lei, porque os arrombamentos de caixas eletrônicos são registrados como furtos qualificados, o que seria insuficiente para inibir a ação dos criminosos.

Ainda de acordo com a entidade, anualmente os bancos investem em segurança cerca de R$ 9 bilhões. Os gastos têm crescido. Em relação ao ano 2000, por exemplo, quando foram aplicados R$ 3 bilhões, já houve um aumento de 200%.

Fonte: O Globo/RIO DE JANEIRO-RJ

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