RIO — Durante pelo menos dois dias da
semana passada, moradores das comunidades Nova Holanda e Parque Maré, no
Complexo da Maré, viveram horas de terror, por causa de intensos tiroteios
entre o Bope e traficantes, municiados por um arsenal que parecia não ter fim.
Confrontos como esses parecem estar longe de acabar. Para cada fuzil que a
polícia consegue tirar das mãos dos criminosos no Rio, outros dois são vendidos
a eles, segundo estimativas de autoridades e especialistas em contrabando de
armas no país.
Com 18 mil quilômetros de extensão, a
faixa de fronteira do Brasil abrange dez países e 11 estados. Além disso, são
588 municípios, dos quais 120 ficam nas divisas. No entanto, estima-se que 80%
de todo o contrabando de armas, drogas, produtos agrícolas proibidos e artigos
piratas, entre outros, entrem diariamente no país por apenas três estados e
seis cidades, onde, em tese, existe fiscalização.
O Plano Estratégico de Fronteiras,
instituído pela presidente Dilma Rousseff através do decreto 7.492, de 8 de
junho de 2011, parece não estar surtindo efeito, considerando-se o aumento da
violência no Rio e em São Paulo, dois estados da federação que estão entre os
maiores consumidores de armas de guerra na América do Sul. Em território
fluminense, as estatísticas revelam um aumento médio de 70% nas apreensões de
fuzis e granadas, em comparação com o ano passado. Segundo o secretário de
Segurança, José Mariano Beltrame, diariamente a polícia retira um fuzil e duas
granadas das mãos de criminosos no estado.
GOVERNO
INVESTIU R$ 285 MILHÕES
Reunindo os ministérios da Justiça (por
meio da Operação Sentinela) e da Defesa (Operação Ágata), o plano do governo
federal, anunciado durante a campanha pela reeleição da presidente, já recebeu
um total de R$ 285 milhões em investimentos. A situação nas fronteiras, no
entanto, ainda está longe de ser controlada.
A ONG Natureza Verde, que tem apoio da
iniciativa privada, incluindo entidades como a Federação Brasileira de Bancos
(Febraban), fez um levantamento minucioso em toda a faixa de fronteira do país.
Cruzou dados dos serviços de inteligência do Exército, da Polícia Federal e das
secretarias de Segurança dos estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. Tudo com o
objetivo de elaborar um projeto de parceria público-privada (PPP) para a
implantação de postos de fiscalização nos principais acessos ao país.
Segundo o presidente da ONG, o advogado
Fernando Humberto Fernandes, que é especialista em armas, a iniciativa privada
bancaria inteiramente a estrutura física e os equipamentos dos postos. Já a Receita
Federal e as polícias Federal, Militar e Civil atuariam na fiscalização.
— Uma das preocupações da ONG é com a
entrada no país de produtos agrícolas chineses que são proibidos. A indústria
de fumo brasileira também perde dinheiro, por conta das 65 fábricas de cigarros
que existem na fronteira do Paraguai. Só a Souza Cruz estima uma perda de R$
100 milhões por mês — diz Fernando. — Os postos de fiscalização, totalmente
bancados pela iniciativa privada, teriam equipamentos de raios X, entre outros
aparelhos. Também haveria câmeras de monitoramento, que permitiriam às
superintendências de polícias acompanharem o trabalho de seus agentes. Com
isso, se evitaria a corrupção, que é outro problema nessas fronteiras. Estamos
buscando o apoio dos governadores para o projeto.
MAIS FUZIS NO
MERCADO NEGRO
Segundo ele, Rio de Janeiro e São Paulo
são os estados que mais sofrem com o contrabando de armas e drogas. E o
problema pode aumentar, com o acordo que deverá ser fechado entre os
guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo
colombiano.
— Com desarmamento da guerrilha,
estamos prevendo mais 15 mil fuzis no mercado negro — disse o presidente da
ONG.
Em nota, a Febraban informou que apoia
o projeto, devido aos constantes assaltos a bancos em todo o país. A entidade
informa que ocorreram, em 2014, 395 casos no Brasil. Em 2000, o total
registrado foi de 1.903. A instituição chama a atenção ainda para os prejuízos
decorrentes dos ataques a caixas eletrônicos. Diz que colabora com a polícia, a
fim de auxiliar na prevenção dos crimes e na identificação e prisão dos
ladrões, fornecendo, por exemplo, imagens de câmeras de segurança. Segundo a
Febraban, é preciso, no entanto, mudar a lei, porque os arrombamentos de caixas
eletrônicos são registrados como furtos qualificados, o que seria insuficiente
para inibir a ação dos criminosos.
Ainda de acordo com a entidade,
anualmente os bancos investem em segurança cerca de R$ 9 bilhões. Os gastos têm
crescido. Em relação ao ano 2000, por exemplo, quando foram aplicados R$ 3
bilhões, já houve um aumento de 200%.
Fonte: O Globo/RIO DE JANEIRO-RJ
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